sábado, 15 de outubro de 2011

Náufrago



Sonhava com o amanhã e em agarrar um futuro repleto de contentamentos. Vivia descontente com o que tinha. Para ele não existia o aqui e agora. Esse era apenas um caminho de sentido único e obrigatório para o futuro, mas que não se permitia sentir.
Parecia lutar aos olhos de quem o via sentado num lugar. Envolto em apontamentos, projectos e estratégias, que não passavam de utopias. No fundo era um passivo de acções.
Andava para a frente e para trás na vida como se de um baloiço se tratasse. As cordas que o prendiam às traves de ferro de um qualquer jardim eram os sonhos feitos de muitos nadas e que procuravam ser um todo absoluto.
Para ele era tudo ou nada. Vivia com a convicção do tudo, mas no fundo estava cheio de nadas, pois abandonava tanto o que conquistava, como o que se aproximava de si.
Era um náufrago de sonhos numa ilha que para ele era deserta, mas estava cheia de pessoas que insistia em não encarar.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Remendos de Memórias



São pequenos pedaços de tecido que nos levam para uma infância que cada vez se torna mais longínqua. Conduzem-nos a recordações de cheiros, momentos, sabores e pessoas.
É como se nos fechassem os olhos e por momentos vivessemos com imagens o passado.
Lembram-nos o primeiro amigo e que seria para toda a vida, as brincadeiras que nos deixavam com buracos na roupa, a voz da professora que nos dizia que ainda havia muito trabalho a fazer. Vemos a mãe à nossa espera à porta da escola e que já tinha o lanche pronto em casa. Trabalhos feitos e muita brincadeira.
Sabores e memórias de uma infância feliz que jamais esqueceremos e viveremos eternamente através da recordação.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Um Lugar Perdido


Estava em ruínas…De repente tudo parecia ter acabado naquele espaço onde antes havia uma vida. Existiam flores, montanhas verdes, pássaros a cantar, pessoas num frenesim constante. Agora Jasmim apenas via à sua volta o que restava de uma cidade. Os pássaros pareciam ter perdido a alegria de antes, o espaço sombrio e desconstruído tornava-se paisagem principal neste quadro. Parecia mesmo uma pintura, porque ali onde antes havia uma vida estava tudo parado. Jasmim não entendia o que se tinha passado, onde tinham ido parar todas as pessoas que faziam parte de si. Foi neste momento que percebeu que estava sozinha. Estava em ruínas. Aflita com a situação começou a gritar por alguém, mas a sua voz fazia eco naquele espaço e nada voltava senão o seu próprio som. Andou horas a fio, mas nada parecia surgir e mantinha-se sempre no seu espaço sem solução. O que ela ainda não tinha percebido é que aquele lugar não era físico, era o seu mundo emocional destruído porque não estava a ser capaz de olhar mais além. Porque para ela a linha do horizonte era o fim. Às vezes não era capaz de ver além do seu olhar. A cegueira da falta de coragem não a deixava seguir em frente. Ela vivia presa aos outros. Agarrava-se às pessoas como a sua bóia de salvação e quando a deixavam uma enorme tempestade se dava. Deixava-se então, afogar pelo medo do abandono.
Jasmim tinha tudo para ser corajosa, mas não se permitia ver essas coisas. Insisti-a em ser uma pessoa com medo e frágil, quando no fundo não era assim. O olhar de quem a rodeava via nela uma pessoa de sucesso, independente e corajosa. Mas ela há muito tempo que tinha abandonado essa visão. As vozes de quem tinha também medos levaram-na a acreditar de que era uma pessoa incapaz de ser feliz.


P.S- Este texto fui buscá-lo ao baú da minha escrita :)

Manifesto Corporal



Vive para o corpo, como se este fosse o seu contacto com o mundo e com a vida. Dá-se nos músculos que desfila num qualquer areal perdido algures. Lança o mistério de uma profissão que deixa dúvidas por onde rasteja. Será junto a uma barra de ferro ou um varão com uma dança sensual?
Olhar duro e militar, num corpo aquecido por uma qualquer table dance rodeado de quarentonas em fascínio.
Esconde-se uma personalidade, mas exibe-se um corpo. Fica a dúvida da dureza das recrutas ou uma vida preenchida pelo prazer vendido!